A Moça Preta, Preta, Pretinha da Malhação é mesmo Preta, Preta, Pretinha?

Por incrível que pareça, essa é a nova polêmica do momento. Aqui estão três considerações sobre o caso.

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A moça preta, preta, pretinha da Malhação é mesmo preta, preta, pretinha?

Por incrível que pareça, essa é a nova polêmica do momento. Três considerações sobre o caso:

1) Pessoas brancas costumam questionar a negritude das pessoas negras que conseguem um lugar ao sol. Mas só se forem mulheres, homens ainda não. Nunca vi ninguém questionar a negritude do Mano Brown ou do Criolo. Ou do Neymar (aquele que não sabe ainda que é negro) ou do Ronaldo ex-fenômeno do futebol atual fenômeno do fascismo e da alienação.

No Brasil, rola uma escolha quando as características negras não são tão evidentes. Como a moça tem cabelos lisos e pessoas brancas acham que isso pertence a eles, trataram de cooptar a imagem da moça e dizer que ela é “morena”. Morena é a Ana Paula Arósio.

Quanto às pessoas negras que questionam a negritude da menina, é mais uma exteriorização do racismo internalizado que negros carregam após séculos de racismo estrutural e que faz inclusive pessoas como Neymar jurarem que não são negras; ou quando têm a pele mais escura, jurar que os de pele mais clara não são negros. Os negros dessas bandas da América vivem um processo de alienação tão grande acerca de si mesmos que nem sabem quem são, quando sabem evitam dizer e raramente sabem o que significa ser quem é. Mas a polícia e a sociedade caucasiana sabe exatamente quem é quem. São pretos que morrem assassinados pelo Estado da falsa democracia cuja a máscara despenca a olhos nus.

2) Toda essa polêmica é o reforço de tudo que falamos nas redes, nas ruas, nos movimentos e que vem sendo dito há anos pela ancestralidade intelectual negra: o Brasil é racista e odeia negros. E ensina que a gente se odeie e odeie outros negros. Nosso próprio complexo de vira-latas é um sintoma de racismo; a venda de nórdicos brasileiros para o mundo via meios de comunicação é outro sintoma, e esse barulho toda vez que por alguma razão uma pessoa negra – quase sempre mulher – tem um destaque ínfimo é outra face do racismo.

3) Esse barulho todo também é uma forma de evitar o questionamento fundamental e mais revelador: por que a grade televisiva é tão branca? Essa e todas as exceções confirmam a regra que é uma televisão branca, hetero, magra, elitizada – ou seja, padronizada.

Continuo acreditando cegamente que devemos EXIGIR proporcionalidade. O truque da representatividade tá batido já. E é um truque muito sofisticado, porque aguça a competição entre o povo negro, que acredita que só há espaço para 01 (UM) negro(a). Mas temos já confirmado pelo IBGE 54% da população desse país de PRETOS (pardos não existem, é mais um truque pra aguçar rivalidade entre pretos e tornar alguns mais aceitáveis quando a convivência for inevitável.).

A moça de Malhação é uma belíssima mulher negra de cabelos lisos e sorriso encantador, porque nós mulheres negras somos lindas e diversas, além de altamente competentes e qualificadas para exercer qualquer atividade que tivermos a oportunidade de aprender e espaço pra mostrar que aprendemos. Lidem com isso.

Agora, nisso tudo, só o que me interessa é saber: quando esse programinha medíocre que compõe a grade emburrecedora da emissora que representa tudo de mais escroto que se cultiva nesse país vai acabar? Porque todo ano, 23.100 jovens negros de 15 a 29 anos são assassinados. São 63 por dia. Um a cada 23 minutos. A CPI confirmou, mas nós negros já sabíamos há tempos. E isso, juntamente com o aumento de mais de 50% de morte de mulheres negras, não está sendo discutido. E esses programas estereotipados só ajudam esses números a crescer.

Leia também 8 Estereótipos Racistas que Novelas Brasileiras Precisam Parar de Usar; e As Dinâmicas das Sub Opressões. 

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